Diálogo de Teatro
(elaborado em 2009 quando fui aluna do Grupo de Teatro da Escola Superior de Educação de Lisboa - o "Segundo a Circular Tearte")
Ele: Desculpe, tem horas que me diga?
Ela: Hum…deixe ver….hum…não, não tenho, mas olhe ser devem
oito horas ou oito e qualquer coisa.
Ele: (Sorriso, olhar interessado) Ah, está bem…obrigada (e
mantém o olhar fixo como se tivesses à espera de algo, de um convite)
Ela: (olha fixamente e mantém uns segundos de espera) Olhe,
eu estou a fazer um trabalho de pesquisa que tem a ver com imagens, com
interagir com pessoas e olhar fixamente um desconhecido e estava agora a pensar
se o poderia fotografar. Acha que sim? O que é que achas?
Ele: Bem, nem sei o que diga. Apanhou-me desprevenido. Eu só
lhe perguntei as horas e de repente….
Ela: (risos) Sim, eu sei mas o desconhecido faz parte da
vida e de repente à sua pergunta das horas eu respondi com um convite, com algo
inesperado. O que pensa disso?
Ele: Disso do quê? De me tirar a foto?
Ela: Sim e não só. O que pensar de enfrentar o desconhecido?
Como lida com o desconhecido? Com a surpresa? O Acaso?
Ele: (sorri e baixa os olhos com ar pensativo, de quem foi
apanhado desprevenido e não sabe bem o que responder)
Bem, nem sei o que lhe diga. Acho-a muito bonita. Essa é a
primeira. E já vinha a olhá-la lá do fundo e reparei. É diferente e isso
agrada-me e então vou-lhe dizer meti-me consigo por causa das horas mas eu
tenho relógio (riso envergonhado). Por favor não me leve a mal. Ah…
Ela: A mal….claro que não, porque levaria, foi educado, e se
não fosso levava o seu troco, não se preocupe. Eu tenho uma visão muito prática
das coisas e acho que nada acontece por acaso. Você reparou em mim e agora eu
estou a usá-lo (entre aspas claro) Usá-lo porque soube exactamente aproveitar a
oportunidade de você cruzar comigo. Agarrei-a. E a vida é isso. De agarrar a
oportunidade que passa à frente ou então criá-la – que foi o que você fez. Tá a
ver – duas maneiras de obter o que queremos – provocar o acontecimento ou
aproveitar o que está a decorrer mesmo em frente ao nosso nariz. E para isso
basta estarmos atentos. Conscientes. No aqui e no agora. Senão passa-nos tudo
ao lado.
Ele: (Ri) Você é muito engraçada. Muito inteligente. Gostava
de a conhecer melhor sabe…
Ela: Bom, isso agora já não me deixa muito confortável, devo
dizer. Agora sou eu que não sei o que lhe dizer. Deixou-me sem palavras. Essa
sua deixa não estava no meu guião.
Ele: Pois, é o acaso…não é como você diz…o estranho, então…é
a mesma coisa…não estava no seu guião, mas está no meu. Aqui e agora. (sorri)
Ela: (risos) pronto, estamos quites, é verdade, tem razão, o
que é que eu posso dizer. Se é verdade para mim quando me da jeito não pode
deixar de ser verdade quando é você a usar certo?
Vamos à foto? (pisca-lhe o olho)
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